NINJIN — Entrevista com um dos criadores da animação brasileira

Arion Wolff
9 min readJun 21, 2022

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Ninjin é uma série animada brasileira original do Cartoon Network Brasil, co-produzida pela Pocket Trap e Birdo Studio, baseada no jogo Ninjin: Clash of Carrots de 2018. A primeira temporada de Ninjin estreou em 4 de setembro de 2019 e contou com 22 episódios divididos em três formatos: 10 episódios de 1 minuto (que estão disponíveis no canal oficial da Cartoon Network Brasil no Youtube), 7 episódios de 3 minutos e 5 episódios de 7 minutos.

Nesta entrevista conversamos com Roger Keesse, roteirista, diretor, produtor executivo e (ao lado do estúdio Pocket Trap) criador do NINJIN, e Marina Filipe, Gerente Sr. de Produções Originais da Warner Media Kids & Family.

A animação acompanha Ninjin, um coelho ̶p̶l̶a̶n̶t̶a̶d̶o̶r̶ ̶d̶e̶ ̶c̶e̶n̶o̶u̶r̶a̶ que as vezes fala mais do que deveria, sendo levemente egocêntrico, Ninjin almeja se tornar o maior ninja de sua vila. Entretanto, preocupado em honrar seus ancestrais, Ninjin também passa por treinamentos com o biruta Sensei, mas sempre se mete em situações absurdas e fora de controle ao lado de seus amigos inseparáveis — a raposa ligeira Akai e o sapo mágico Flink. Juntos, sempre causam confusão, tentando imitar tudo que veem na TV, nos games e nos quadrinhos. A aventura dos três amigos está só começando, enquanto as tropas malignas de Shogun Moe se aproximam.

Keesse também deixou uma mensagem para os leitores do Anime New:

Em nome de toda a equipe gostaria de agradecer pelo apoio e oportunidade de falar sobre Ninjin para o público de vocês. Anime, como vocês devem ter notado, é uma peça fundamental do nosso processo criativo e torcemos muito para os ‘Otakus’ BR adotem o projeto.

– Quais foram as inspirações para Ninjin?

Sempre gostamos de dizer que o Ninjin não é o protagonista incrível e maneiro de uma série de Animação, mas uma criança que deseja a vida de um protagonista incrível e maneiro de uma série de Animação. Trazendo um peso extra na cultura pop que nos inspiramos para gerar as histórias. Acho que a maior de todas são as próprias animações do Cartoon Network (olha para a câmera e abre um sorriso canastrão). O Rodrigo Zangelmi e o Henrique Caprino sempre comentam como ‘Hora de Aventura’ e ‘Gumball’ foram fundamentais para a criação do estilo e universo aplicado em NINJIN — CLASH OF CARROTS, jogo da Pocket Trap que deu origem à série (que também carrega essa tradição).

Porém, algo me diz que os leitores do ‘Anime New’ estão mais interessados em saber de outro lado do Ninjin, que não só bebe da fonte de clássicos que crescemos assistindo (Dragon Ball, Yu Yu Hakusho e essas coisas de velho), mas mistura estilos visuais / narrativos de Animes mais contemporâneos (optando olhar para soluções mais frenéticas e malucas — influenciadas por gente como Hiroyuki Imaishi e Masaaki Yuasa — do que para os rebuscados Sakugas) com uma brasilidade hu3hu3, que tanto adoramos. Fora que temos uma equipe incrível — Storyboarders, Animadores, Artistas visuais, finalizadores, elenco de voz original, trilheiros, artistas de foley e produtores — que imprimem na tela suas próprias inspirações e referências.

– Como foi o processo de produção de roteiro para a animação levando em consideração o jogo?

A série foi concebida para passar no mesmo universo narrativo do jogo, anos antes, quando Ninjin e Akai — ainda crianças — não imaginavam o que estaria por vir.

Justamente por isso a velocidade e tom pop do ‘Clash Of Carrots’ (junto com as inspirações citadas há pouco) se tornaram os alicerces criativos da série. Em contrapartida, as diferenças entre as duas mídias permitiram que tivéssemos a liberdade ideal para gerar personalidades e histórias que de fato funcionassem para outro público e sem a necessidade de já ter algum relacionamento prévio com o universo.

Do ponto de vista narrativo e de roteiro, é tanto um desafio como uma diversão criar uma trama que já sabemos onde vai desembocar, mostrando para os fãs que o mais importante é o caminho que a gente trilha e não o destino final.

– O que significa o Ninjin para você que acompanha o projeto desde o início? Como essa jornada de criação afetou você?

Chega a ser difícil imaginar como seria minha vida sem o NINJIN. Mesmo antes de nos juntarmos com a BIRDO para de fato começarmos a série, foram anos desde a sua concepção, aproximação com o Cartoon Network, elaboração do formato adequado (que explico mais na próxima resposta), até enfim ter a aprovação para seguirmos adiante.

Então, ver o NINJIN concluindo a primeira temporada e a recepção dos fãs é algo que não consigo traduzir em palavras. Porque para nós, o processo de criação/produção é uma delícia, mas o relacionamento do público com as nossas personagens e universo é onde a magia começa.

Pessoalmente, NINJIN consolidou e potencializou diversas crenças e paixões. Como exemplo, posso citar como a influência do Anime no meu trabalho passou de velada para escancarada, permitindo que eu compreendesse o que de fato me encanta e como (pelo menos começar a) traduzir de forma viável e abrasileirada para a nossa realidade. Aproximei-me ainda mais de elementos da cultura asiática (já que além do Japão, tenho crescente admiração/interesse pelo mercado de Entretenimento Sul Coreano e Chinês), tanto de cultura pop como sociais. Mas — acima desses e todas outras coisas — consolidou com plena clareza que trabalhar com conteúdo infantil/jovem é onde deveríamos estar investindo mais energia, pois a cultura pop é que traz o suporte social e emocional para a juventude chacoalhar as coisas.

– Existem planos para uma nova temporada de Ninjin?

Sem dúvida! Essa primeira temporada é dividida em quatro arcos (o primeiro com cinco episódios e o restante com sete), dois formatos de curtas para web (com episódios de um e de três minutos estão disponíveis no Youtube do Cartoon Network) e belíssimas HQs que já começaram a sair no portal do Cartoon Network. Mas tudo isso é só o começo.

Gostamos de brincar que temos planejado cem anos no passado e cem anos no futuro do universo do Ninjin. O que nem é tanto uma piada assim, uma vez que nossas gavetas já estão repletas de novos arcos, histórias, piadas e personagens que estão doidinhos para ver a luz do dia.

Mas vale a pena frisar que são apenas planos, porque — mesmo com toda a parceria maravilhosa com o Cartoon Network — a continuidade de NINJIN, assim como qualquer projeto nacional, depende do apoio da mídia e dos fãs. Então, agradecemos imensamente a oportunidade de falar aqui no ‘Anime New’ e esperamos que seus leitores curtam e se engajem com a série, nos ajudando a seguir com essa história.

– Além de Ninjin você já participou de outras produções brasileiras de animação, como Astronauta: Propulsão da HBO e Turma da Mônica Jovem do CARTOON NETWORK, como é participar do crescimento no mercado de animações no Brasil e lidar com a distribuição internacional?

Animação é, sem exagero, uma das partes mais importantes da minha vida (pessoal e profissional). Isso já dá uma pista de quanto me sinto privilegiado de poder fazer parte desse novo capítulo do Mercado de Animação. Não só pelos resultados, mas poder colaborar com tantos profissionais e estúdios que tanto admiro.

Um novo capítulo, pois o Mercado de Animação Brasileiro teve diversas fases e tamanhos com uma longa e admirável trajetória. Porém, é a primeira vez que se capacitou (por conta de Fomento e avanços tecnológicos) para gerar conteúdo original — em larga escala — capaz de romper certas bolhas e atingir o público de maneira considerável. Matando um leão por dia para ficar lado a lado dos gigantes da indústria que vem do exterior.

O que delega aos projetos o poder de pavimentar caminho para novas vozes, talentos e estilos. Pois, se (assim como no Japão) conseguirmos estabelecer um público cativo para nossa produção nacional de Animação, a corrida deixa de ser técnica, se tornando emocional e criativa. Buscando novas formas de se comunicar com mais efetividade, abrindo portas para criadores e profissionais mais diversos, plurais e que representem o Brasil em sua totalidade. Se isso não é empolgante, eu não sei o que pode ser!

O próprio NINJIN é um ponto fora da curva, se um Roteirista e um Estúdio de Games conseguem se juntar e viabilizar uma série no Cartoon Network, isso abre ainda mais os leques de possibilidades. Permitindo que projetos surjam de outros mercados, de fora dos estúdios ou até mesmo de lugares mais improváveis.

– Como você se sente com esse relançamento de Ninjin na HBOMAX?

Ainda estamos em clima de paquera, nosso contato, amizade e parceria bem maneira é com o Cartoon Network (um beijo pro Cartoon!). Tanto que eles que acabam representando o NINJIN nas conversas com a HBOMAX.

Porém, pouca coisa nos deixaria mais empolgados no momento do que estar no catálogo da HBOMAX. Não só por facilitar o consumo e potencializar as chances do público conhecer a série, mas, principalmente, por permitir que os fãs assistam no modo que julgamos o ideal para ser assistida: em ordem cronológica. O que — na nossa opinião — potencializa os maiores charmes do projeto. Convidamos todos a acompanhar essa jornada com a gente, tanto na HBOMAX quanto no Cartoon Network.

Perguntas para Marina Filipe, Gerente Sr. de Produções Originais da Warner Media Kids & Family.

– Você acha que o espaço para produções de animações nacionais está crescendo?

Sim, sem dúvida! Acredito que vivemos hoje o melhor momento para a produção de conteúdo dito “local”. Vivemos um contexto histórico de boom no volume de oferta de conteúdo — muito por conta do advento do streaming — e isso é fantástico! O investimento em conteúdo local traz diversos benefícios, entre eles o fortalecimento da nossa cultura e da diversidade temática, assim como, do ponto de vista econômico, investir em um mercado de extrema relevância e que gera centenas de milhares de empregos no país. Dentro do universo infantil, a animação nacional é um investimento no futuro. As histórias que escolhemos contar hoje ajudam a moldar as futuras gerações e como elas lidam com temas tão urgentes quanto diversidade e representatividade racial, cultural, de gênero.

– Por que escolheram a animação Ninjin para adentrar o catálogo do CN e da HBOMAX?

Ninjin é uma propriedade que tem elementos da nossa cultura dentro de uma narrativa global e ampla. Tem algumas características vindas do anime, da cultura japonesa, mas dialoga perfeitamente com o público latino-americano. É uma série que nasceu no digital e que pudemos trabalhar com diferentes formatos logo na estreia, o que permitiu darmos à audiência um conhecimento mais profundo dos personagens, uma narrativa mais rápida e acelerada das histórias e do universo da série. A entrada de Ninjin no Cartoon Network quanto da HBOMax foi um caminho natural para uma série que já nasceu com esse formato multiplataforma. Agora, temos mais uma oportunidade de levar Ninjin, uma série brasileira, para mais gente ao redor do mundo.

– Quais as expectativas para esse relançamento de Ninjin nas duas plataformas?

Esperamos que com a estreia de Ninjin no Cartoon Network e na HBOMax possamos levar este conteúdo para mais gente, principalmente na questão da internacionalização. É uma grande oportunidade de conseguir levar animação brasileira, narrativas locais, para outros mercados, e assim gerar mais visibilidade para a série. E esse é um momento super importante, em que o mercado de animação está bem mais solidificado, com conteúdos de excelente qualidade e histórias muito bem contadas e amarradas. É um momento especial para animação.

Ninjin foi desenvolvido pelo estúdio independente Pocket Trap. O primeiro jogo foi lançado em 2013 apenas para mobile, e após alguns anos em 2018 uma sequência foi desenvolvida para Playstation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC.

Também disponível no site AnimeNew (17/08/2021).

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