Por que alguns animes têm títulos tão grandes?
A indústria dos animes passou por uma grande metamorfose nos últimos vinte anos, mas uma tendência que continua a criar discussões entre os otakus são os títulos grandes.
No início dos anos 2000 tínhamos animes que o título era apenas uma ou duas palavras, como Naruto, Bleach, One Piece, Dragon Ball, entre outros. Esses animes eram adaptações de mangás populares que foram lançados nos anos 80 e 90.
Conforme os anos, outras mídias foram recebendo adaptações para anime, como jogos visual novel e light novels (LN).
As light novels são as mais prováveis responsáveis pela popularização dos “títulos descritivos”, que são os títulos que praticamente descrevem a obra.
Enquanto é impossível apontar exatamente quais obras iniciaram a tendência, duas se destacam. A light novel Suzumiya Haruhi no Yuuutsu (A Melancolia de Haruhi Suzumiya), escrita por Nagaru Tanigawa e ilustrada por Noizi Ito, lançada na revista seinen The Sneaker da Kadokawa Shoten em 2003; e Toaru Majutsu no Index (A Certain Magical Index), escrita por Kazuma Kamachi e ilustrada por Kiyotaka Haimura, lançada na revista Dengeki Bunko da ASCII Media Works em 2004.
Neste momento começamos a ver que os títulos não eram apenas uma identificação, mas sim uma sugestão do que a história da obra trata. Especialmente no caso da LN “A Melancolia de Haruhi Suzumiya” que destaca no título um sentimento de um personagem, entregando a possibilidade de uma história dramática ou uma comédia trágica.
Mas porque as light novels tem títulos tão grandes?
Existem alguns pontos a serem analisados para chegar a uma conclusão sobre essa pergunta. Primeiramente, a maioria das light novels com “títulos descritivos” são auto-publicadas online pelos autores em sites de webnovels.
O site Shosetsuka ni Naro, por exemplo, deu origem às light novels Tate no Yuusha no Nariagari (The Rising of the Shield Hero), Tensei shitara Slime Datta Ken (That Time I Got Reincarnated as a Slime) e Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! (KonoSuba: God’s Blessing on this Wonderful World!).
Apesar do ambiente propício para a criação de uma história, os autores precisaram se adaptar para chamar atenção dos leitores, as webnovels raramente possuem ilustrações, então não existia apelo visual, além da alta concorrência de light novels nos sites de publicação.
Considerando a aversão das pessoas em ler sinopses, os autores começaram a tentar descrever a trama da história no título com objetivo de chamar mais atenção para a obra, tornando o próprio título um gancho para a história.
Embora o título “Aquela vez que eu reencarnei como um Slime” possa parecer simplório à primeira vista, ele desempenha a função de despertar a curiosidade dos leitores. Essa escolha não convencional suscita uma pergunta intrigante na mente do público: “Como alguém pode reencarnar como um slime?” — uma interrogação que reflete precisamente a intenção do autor e sua habilidade em gerar interesse em sua obra.
“Percebemos que muitos títulos de light novels são extremamente longos. Por que você acha que é assim?”
O autor da light novel “Kouri no Reijou no Tokashi Kata” (How To Melt The Ice Queen’s Heart), Kakeru Takamine, respondeu a essa pergunta em uma entrevista ao site Anime Corner.
“Essa pergunta é tão boa. Este pano de fundo é uma longa história para explicar. Muitos leitores japoneses agora querem que apenas o título explique toda a história. Eles usam o título para decidir se compram ou não uma novel, por isso é necessária uma explicação detalhada. Inevitavelmente, haverá muitos títulos longos. Eu não gostei disso, então fiz o meu curto.”
Repercussão e adaptação
Os “títulos descritivos” continuam encontrando resistência dentro da comunidade otaku. Esses títulos, muitas vezes, tornaram-se motivo de chacota devido à sua extensão e à quantidade de detalhes que revelam sobre a trama.
Inicialmente, havia antipatia com as histórias de título grandes, como a do próprio “Tensei shitara Slime Datta Ken”, que foi ridicularizado em seu lançamento. Entretanto, com o tempo, essa resistência foi cedendo espaço à compreensão de que, por trás de um título aparentemente despretensioso, poderia se esconder uma trama cativante.
Atualmente, na minha percepção pessoal, é que a piada com o título grande é uma brincadeira saudável. Os “títulos descritivos” foram uma necessidade que veio das LN, não acho que deveriam ser regra de como criar títulos para obras, mas é importante entender porque eles existem no contexto literário.